Depois da Carne de plantas, é a vez do Leite e seus derivados

shares
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Fabio Pando

Fabio Pando

• C.E.O. da Horizon Consulting. • Parceiro de negócios da Builders Construtoria | FoodTech Movement • Professor no MBA e educação continuada da ESPM.
Tempo de leitura: 6 minutes

As opiniões dos colaboradores do FT1 são somente suas

Se você ainda não comeu um hambúrguer feito de plantas e não de carne bovina, em breve comerá. Assim como salsichas, linguiças, almôndegas etc. E o melhor: nem notará a diferença. Esta é a promessa que inúmeras empresas do setor alimentício estão fazendo e trabalhando duro, sejam elas empresas tradicionais ou Startups que, baseadas em tecnologia, estão criando novas opções de alimentos, como carne sintética, ingredientes modificados, orgânicos, biodinâmicos e outros nomes ainda desconhecidos do grande público.

Apenas recentemente começamos ouvir falar de hambúrguer de plantas com sabor, bem diferente dos já existentes feitos com soja e sabor duvidoso. Se por aqui isto é uma novidade, em mercados mais desenvolvidos, já deixou de ser um produto de nicho de mercado e começa a tomar o gosto do grande público.

Nos EUA por exemplo, somente a categoria de carnes à base de vegetais vale mais de US $ 800 milhões, com vendas 10% superiores sobre 2018. A carne à base de plantas agora responde por 2% das vendas de carne embalada no varejo. A carne refrigerada à base de plantas está impulsionando o crescimento da categoria, com vendas acima de 37%. Em comparação, as vendas na categoria de carne convencional cresceram apenas 2% durante o mesmo período.

E não é somente com carnes à base de vegetais. Todos os alimentos de plantas registram crescimentos importantes. Novos dados divulgados pela Plant Based Foods Association e pelo Good Food Institute mostram que as vendas de alimentos à base de plantas nos EUA cresceram 11% no ano passado, elevando o valor total de mercado à base de plantas para US $ 4,5 bilhões. O mercado total de alimentos no varejo dos EUA cresceu apenas 2% nas vendas em dólares durante o mesmo período, mostrando que os alimentos à base de plantas são os principais fatores de crescimento para os varejistas em todo o país. Desde abril de 2017, as vendas totais de alimentos à base de plantas aumentaram 31%.

Se a carne à base de plantas já é uma realidade para nós, o que podemos dizer do leite e seus derivados? Bem, a situação aqui é mais impressionante ainda.

O consumo de leite à base de plantas aumentou devido à ausência de colesterol e lactose, tornando-o adequado para um grupo de população que sofre de intolerância à lactose e doenças cardíacas e, em geral, para todos. Prevê-se que o mercado norte americano de alternativas de leite à base de plantas cresça a uma CAGR (Compound Annual Growth Rate, ou Taxa Composta Anual de Crescimento. Este índice representa a taxa de retorno de um investimento em um determinado período de tempo) de 15% entre 2013 e 2018 e deverá atingir um valor de US $ 14 bilhões.

Prevê-se que o mercado de bebidas funcionais atinja 208,13 bilhões de dólares em 2024. Prevê-se uma CAGR de 8,66% durante o período de previsão (2019-2024).

As taxas de crescimento de leite e derivados de plantas, já apresentam taxas de crescimento de 2 dígitos em quase todas as categorias, de acordo com um levantamento realizado pela Nielsen:

Em categorias de produtos específicas, como carne, leite, queijo e iogurte, os alimentos à base de plantas estão superando significativamente o crescimento das vendas de alimentos à base de animais. Por outro lado, as categorias de iogurte e leite de origem animal estão em declínio.

Além disso, na mesma pesquisa pode-se notar que os atributos demográficos de compradores de alimentos à base de plantas são compradores de maior renda, representando uma oportunidade para os varejistas atraírem consumidores de alto valor e aumentarem o tamanho médio da cesta, apresentando uma grande variedade de opções de carne e leite à base de plantas.

De acordo com o estudo da Livenkindly, a autora Nadia Ragg, mostra que o mercado global alternativo de laticínios deverá crescer a uma CAGR de 12,4% durante o período previsto de 2018 a 2025 – um aumento de 2,6% na CAGR em relação ao período anterior.

Interessante notar que a demanda por laticínios está caindo, enquanto as alternativas baseadas em plantas aumentam em popularidade. Essa iniciativa é, em parte, devido aos millennials, dos quais compõem a maior população de veganos. Além disso, a metade dos consumidores americanos de laticínios que também compram alternativas veganas está impulsionando o mercado.

A pesquisa mostra que enquanto as novas alternativas de produtos à base de plantas crescem, o consumo dos chamados carnívoros e de leite de vaca está caindo.

Um levantamento do The Guardian mostra que embora o leite de vaca ainda seja um mercado muito maior, no valor de mais de 3 bilhões de libras, os britânicos compram menos litros do que seus pais. O que antes era considerado uma fonte de saúde completa parece que está saindo de moda; o consumo médio de leite de uma pessoa no Reino Unido caiu 50% desde os anos 50.

Não apenas no Reino Unido, mas também nos EUA. De acordo com pesquisas recentes relatadas no jornal Sunday Morning, os americanos estão bebendo 37% menos leite do que há 50 anos. De fato, no último meio século, os Estados Unidos perderam um milhão de fazendas leiteiras. É um grande impacto para o concorrido mercado leiteiro.

As vendas de leites à base de plantas cresceram 6% no ano passado, agora representando 13% de toda a categoria de leite. Enquanto isso, as vendas de leite de vaca caíram 3% no mercado norte americano.

No ano passado, o iogurte vegetal cresceu 39%, enquanto o iogurte convencional caiu 3%; o queijo à base de plantas cresceu 19%, enquanto o queijo convencional está estagnado; e os sorvetes à base de plantas e as novidades congeladas cresceram 27%, enquanto os sorvetes convencionais e as novidades congeladas cresceram apenas 1%. Veja os quadros abaixo da Plant Based Food Association:

A mudança está acontecendo de forma rápida. Vimos a abolição das sacolas plásticas tradicionais nos maiores supermercados, a eliminação no uso dos canudos de plástico e agora a opção por produtos que não tenham origem animal. E novamente a geração millennials (nascidos após o início da década de 1980 até ao final da década de 1990) representam o início desta mudança e a próxima geração -Z (nascidos entre meados dos anos 1990 até o início do ano 2010) não apenas acompanharam, como aprofundaram esta mudança.

Aparentemente esta nova geração adota os produtos de origem vegetal por 5 aspectos básicos:

1- Algum tipo de intolerância;

2- A adoção do Veganismo, um novo estilo de vida que muda os hábitos alimentares de quem opta por uma vida mais saudável.

3- Bem-estar animal;

4- Receio de consumir produtos com antibióticos ou outros componentes;

5- Maior consciência ambiental.

Este último item aparece com forte impacto e alta ressonância neste público. Para afastar ainda mais o mercado de alimentos de produtos derivados de animais, 60 novos outdoors foram erguidos em Los Angeles, pedindo aos quatro milhões de habitantes da cidade que abandonassem os laticínios. Com relação à mudança, Marilyn Kroplick M.D., presidente da In Defense of Animals, declarou: “Os laticínios são realmente assustadores, e é hora de parar de revestir os bolsos da indústria de laticínios às custas de nossa saúde, meio ambiente e bem-estar animal”.

O apelo à consciência ambiental é revestido de novas informações impactantes, que até pouco tempo atrás ninguém tinha qualquer tipo de conhecimento. Veja o quadro abaixo da Grain & IATP (GRAIN é uma pequena organização internacional sem fins lucrativos que trabalha para apoiar pequenos agricultores e movimentos sociais em suas lutas por sistemas alimentares controlados pela comunidade e baseados na biodiversidade. IATP é o Instituto de Agricultura e Política Comercial dos EUA).

De acordo com eles, as 5 maiores empresas de carnes e laticínios somadas, emitem mais gases do efeito estufa em relação as empresas tradicionalmente ligadas ao impacto ambiental, como as empresas de energia – Óleo e Gás, como Exxon Mobil, Shell e BP (Beyond Petroleum), sendo a brasileira JBS a líder em emissões.

A continuar o lançamento de produtos derivados de plantas, por meio de empresas tradicionais ou Startups que utilizam cada vez mais a tecnologia no desenvolvimento de alimentos cada vez mais saborosos e com preços competitivos, um dia talvez, você se tornará vegano sem saber.

 

POSTS RELACIONADOS