Probióticos muito além dos laticínios

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Lígia Moraes de Campos

Lígia Moraes de Campos

Food Scientist, Researcher & Food Innovation consultant
Tempo de leitura: 3 minutes

As opiniões dos colaboradores do FT1 são somente suas

Os probióticos além do Yakult

Novos alimentos para o microbioma

 

A valorização da colaboração e diversidade não é novidade somente do mundo moderno do ambiente de trabalho e inovação. A Ciência constatou que também são muito bem vindas em aspecto biológico de sobrevivência e evolução de uma comunidade ou um ecossistema. Vários organismos, diferentes, particulares, que juntos produzem resultados  potencializados e interdependentes. Lembra-se daquela definição da biologia em que um conjunto de células semelhantes conforma um tecido, um conjunto de tecidos, um órgão, e por sua vez um conjunto de órgãos, um organismo? Somos nós, humanos, um organismo? Na verdade, poderíamos considerar-nos um superoganismo. 

Somos 10% humanos. Isso mesmo, 9 em cada 10 células do corpo humano não são humanas. Convivemos com, em média, 100 trilhões de microrganismos, que constituem o nosso chamado microbioma. São mais de mil espécies de bactérias e leveduras que, com esta descoberta, passam a ter grande protagonismo na nossa saúde e bem-estar.

Estima-se que, juntas, as bactérias do intestino pesem entre 1 a 2 Kg, o mesmo peso do nosso cérebro. Muito já se sabe sobre a produção de neurotransmissores, como a serotonina, a partir do metabolismo destes microrganismos, motivo pelo qual o intestino é considerado nosso segundo cérebro. Sua performance poderia ter relação com imunidade, ansiedade, comportamento e até mesmo nosso humor.

A diversidade da nossa comunidade microbiana depende de muitos fatores, relacionados ao tipo de parto como nascemos, à amamentação materna, ao uso de antibióticos e, claro, é também muito influenciada pela nossa dieta.

Muito antes da pandemia, o modus operandi da nossa vida moderna já envolvia uma rotina germ free. Álcool gel, lenços umedecidos sanitizantes, sabonetes anti-sépticos. Agora que o receio nos invadiu com a ameaça de um vírus invisível, estamos ainda mais cuidadosos com a exterminação de todo e qualquer microrganismo, inclusive aqueles que poderiam ser benéficos. Então como reforçar estas defesas? Através da alimentação.

Os chamados alimentos probióticos – alimentos com culturas vivas de microrganismos – não são novidade. O Yakult®, leite fermentado japonês, tem mais de 80 anos. A indústria de laticínios há tempos desenvolveu iogurtes e bebidas lácteas com suas culturas patenteadas liderando o mercado de probióticos, como por exemplo o Activia® da Danone.

Entretanto, com a constatação da importância da saúde intestinal e a preocupação cada vez mais evidente com a imunidade e sistema de defesa, os consumidores estão cada vez mais em busca ativa de produtos probióticos que colaborem com o microbioma. A categoria então deixa de ser dominada por alguns poucos líderes e se democratiza nos mais diversos lançamentos, como bebidas de frutas, chás e até mesmo barras de cereais. Está, portanto, consolidada uma tendência em alimentos funcionais na categoria de Saúde e Bem-estar.

Em mercados mais maduros, como por exemplo, a Inglaterra, a tendência já tem indícios de se consolidar como mainstream e os produtos com probióticos estão migrando da gôndola de saudáveis ou lojas especializadas, para habitar categorias mais indulgentes, como sorvetes ou até mesmo bebidas alcoólicas.

De acordo com a agência Zion Market Research, o mercado de probióticos global movimentou USD 46,2 bilhões e está estimado a atingir USD 75,9 bilhões entre 2020 e 2026, com crescimento CAGR de aproximadamente 7,35%. Terreno fértil de oportunidades.

Registrar um produto como probiótico e fazer a alegação no rótulo, no entanto, exige um processo junto aos órgãos reguladores em que é requerida a demonstração científica do seu poder nutricional e respectivos benefícios à saúde humana. No Brasil, a ANVISA publicou em RDC (241/2018) o protocolo e requisitos para comprovação da segurança e dos benefícios à saúde dos probióticos para uso em alimentos. Esta, no entanto, não deveria ser uma restrição à inovação e ao desenvolvimento de novos produtos com este apelo no Brasil.

Uma indústria muito próxima à de alimentos pode ser grande aliada nesta simbiose: a indústria farmacêutica está neste mercado há muito mais tempo e pode se transformar em grande fornecedora de culturas já registradas, patenteadas e prontas para empregar em novas fórmulas. Como é o caso da Dupont, que sob sua a marca HOWARU® disponibiliza ao mercado diversas linhagens de lactobacilos ou bifidobactérias de propriedade registrada como  probióticos para desenvolvimento de novos alimentos como bebidas, sobremesas congeladas e suplementos alimentares e com diferentes alegações funcionais, de acordo ao objetivo da alegação, como controle de peso, melhor digestibilidade, saúde feminina e, em breve, culturas de lactobacilos para benefício das funções cognitivas.

Sem dúvida alguma, o tema é de relevância, tem grande interesse por parte do consumidor e o Brasil ainda é um grande white space para ser habitado. Mas a inovação gosta de companhia. Neste caso, a colaboração entre indústrias, entre marcas, ou até mesmo entre parceiros será sem dúvida o trigger de quem chegará as gôndolas mais rápido – e com mais êxito. 

Eu, Lígia Moraes de Campos, Cientista de Alimentos e Consultora em Food Business – em parceria com Ana Carolina Bajarunas, CEO da Builders e Founder do Foodtech Movement, estamos juntas para ajudar neste processo.

Vem falar com a gente!

 

Referências e informações complementares:

  1. 10% Human, Alanna Collen
  2. Cultured, Katherine Harmon Courage
  3. Rewild, Jeff D. Leach
  4. Dirt is good, Jack Gilbert, PhD and Rob Knight, PhD
  5. Zion Market Research – https://www.zionmarketresearch.com/report/probiotics-market
  6. Howaru® PREMIUM PROBIOTICS – Customized Probiotic Solutions from DuPontTM 
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