Inovação em negócios na prática

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Fabio Pando

Fabio Pando

• C.E.O. da Horizon Consulting. • Parceiro de negócios da Builders Construtoria | FoodTech Movement • Professor no MBA e educação continuada da ESPM.
Tempo de leitura: 5 minutes

As opiniões dos colaboradores do FT1 são somente suas

Por que as empresas tem dificuldade em implementar inovações?

Muito investimento tem sido feito pelas empresas do mercado em inovação. A prática se tornou mais frequente a partir de 2013, quando começaram a surgir núcleos de inovação que, integrados a estrutura de negócios, receberam nomes criativos na tentativa de se diferenciarem do chamado business as usual.

A iniciativa não é em si inovadora. Grande parte das empresas sempre tiveram áreas internas dedicadas a inovação de seus negócios. Após um certo período, a maioria destas áreas foram extintas e seus executivos demitidos. Motivos não faltaram, como escassez de entrega, estratégia mal definida pela própria empresa, necessidade de redução de custos, entre outras.

A questão que proponho analisarmos neste artigo é: tendo em vista as inúmeras iniciativas de inovação que as empresas empreendem, por que existe tanta dificuldade em implementá-las no dia a dia? Certamente não é por falta de instalações confortáveis e diferentes do mobiliário tradicional, espaços com jogos, bolas de Pilates e produtos grátis para consumo, incluindo cervejas em alguns casos mais moderninhos.

Partiremos então da parte técnica. Umas das metodologias mais utilizadas nas áreas de inovação é o Design Thinking, que procura trazer a visão-cliente para dentro da empresa, melhorando produtos, serviços, processos, comunicação etc.

Todas as pessoas que tiveram a oportunidade de estudarem este ferramental de inovação, certamente se lembrará que para a inovação funcionar, ela deverá satisfazer 3 critérios essenciais: 1- O que as pessoas querem, 2- Se o que querem é financeiramente viável e 3- Se o que querem é Tecnicamente possível. (Fig. 1).

É muito comum as empresas darem atenção apenas para o Financeiramente viável e o Tecnicamente possível, o que é compreensível, claro. Ocorre que em grande parte das vezes, muito mais do que podemos imaginar, as empresas não dão atenção para o que as pessoas querem, ou ainda, as empresas acreditam que já sabem tudo o que as pessoas querem. Não é preciso dizer a quantidade de fracassos dos novos produtos, seja pelo fato de não ser o que os clientes queriam realmente, ou por não entenderem a oferta da empresa. Isso se traduz em perdas consideráveis, seja no time-to-market, ou em retirada do novo produto do mercado.

A questão é que, mesmo quando uma inovação é desenvolvida respeitando os 3 critérios acima, ainda assim, a inovação acaba morrendo de forma pré-matura dentro das entranhas das empresas e não chegam às mãos dos clientes. Por quê?

Nos parece que existem outras variáveis para a implementação de uma inovação que apenas a técnica não é capaz de suprir. A nossa experiência em implementação de inovações em negócios em diferentes empresas e setores da economia ao longo de quase uma década, nos mostrou que apenas a técnica é incapaz de dar conta disso.

Estas outras variáveis estão mais relacionadas aos aspectos humanos e das relações inerentes dentro das empresas. São elas:

  • Alinhamento de Propósitos: A inovaçãodeve ser vista pela empresa como uma das formas de materialização da essência de sua marca. Como cada empresa deve ter a sua essência bem definida, a forma de entregar uma mesma inovação muda de acordo com as crenças e valores internos de cada empresa.
  • Estrategicamente Desejável: Nenhuma empresa irá implementar uma inovação que vá contra sua estratégia de negócio, algum pólice interno ou algo que apesar do cliente desejar, não está dentro dos planos de negócio. A empresa deve saber lidar com situações onde o desejo de seus clientes não será implementado. Uma inovação desenvolvida deve, além de entregar algo desejado pelo cliente, melhorar o resultado do negócio agregando valor ou reduzindo custos. Os KPI’s da inovação devem ser claros para a empresa.
  • Politicamente aceitável: É importante ter em mente que as relações internas dentro de uma empresa representam muitos desafios. Existe pouquíssimas chances de uma inovação ser implementada se ela não respeitar os seguintes aspectos:

              – Dinâmicas internas: As empresas possuem um timing interno que é diferente do tempo cronológico. Entre uma reunião e a próxima do mesmo assunto, pode levar semanas, ou meses. Aparentemente o motivo será a agenda dos executivos, mas em muitos casos estão esperando o momento certo de pautarem o tema com os líderes.

              –  Agendas Paralelas: Nas empresas coexistem 2 agendas: a oficial e a paralela. Na oficial estão os assuntos que são tratados abertamente em inúmeras reuniões. Na paralela estão todos os assuntos que são tratados em conversas pessoais e            não em reuniões formais.  Refiro-me aos temas relevantes, e não conversas de follow-up entre as áreas. Como em alguns casos as inovações podem alterar o status quo,é provável que este tema seja tratado paralelamente antes de ser um assunto que vá para a agenda oficial.

               – Cultura Interna: Todos os grupos sociais desenvolvem sua própria cultura. Para facilitar a compreensão, vamos resumir o conceito, dizendo que a cultura interna de uma empresa é a forma como ela faz as coisas, ou seja, um jeito de ser e de fazer negócios. Isso é materializado nas relações pessoais, em seus produtos, serviços e em todas as suas dinâmicas. A implementação de uma inovação deve necessariamente respeitar esta forma de relacionamento.

–   Buy in: Podemos explicar este item como conquista de aliados. Como se trata de iniciativas diferentes do habitual, um projeto de implementação de inovações, deve ter o conforto e a compreensão dos executivos envolvidos. É necessário que o gestor do projeto de inovação busque mais do que apoiadores e sim aliados e patrocinadores desta iniciativa, que necessariamente devem ser executivos com alto cargo na empresa.

Resumidamente, todas as variáveis necessárias para que um projeto de inovação seja implementado estão representadas na figura 2 abaixo (diagrama de Pando).

Existem os aspectos técnicos, os Hard Skills (Desejável pelos clientes, Financeiramente Viáveis e Tecnicamente Possíveis) e os aspectos humanos, os Soft Skills (Alinhamento de Propósitos, Estrategicamente Desejável e o Politicamente aceitável).

Existem conteúdos que a família nos ensina. Outros que uma religião nos ensina. Outros que as escolas nos ensinam. Outras ainda que um chefe ou uma empresa nos ensina. Porém existem também assuntos que apenas a vida, ou a experiência nos ensina. Não à toa em algumas profissões como um cirurgião ou piloto de avião, as horas de trabalho são fundamentais na formação de um bom profissional. Com inovação é a mesma situação. Aprendemos fazendo, ou Learning by doing como falam.

Todos são importantes e não devem ser negligenciados pelos operadores da inovação. Os cursos de inovação nos ensinam a técnica, ou O Quê fazer. A vida nos ensina a prática, ou o Como fazer. Ambos têm a mesma importância. Boa sorte.

 

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