O NOVO PRECONCEITO

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Fabio Pando

Fabio Pando

• C.E.O. da Horizon Consulting. • Parceiro de negócios da Builders Construtoria | FoodTech Movement • Professor no MBA e educação continuada da ESPM.
Tempo de leitura: 4 minutes

As opiniões dos colaboradores do FT1 são somente suas

 As empresas estão estimulando um novo tipo de preconceito?  

A tecnologia que sempre trouxe facilidade, praticidade e conveniência, tomou uma extraordinária dimensão com as novas empresas que, munidas de muita tecnologia e vontade de resolver os problemas das pessoas, passaram a oferecer serviços de forma muito mais simples do que as ofertas tradicionais do mercado.

Até pouco tempo atrás, nós os simples mortais, tínhamos que nos adaptar aos processos burocráticos, lentos e ilógicos das empresas que desenvolviam suas soluções com a visão interna, geralmente feitos sob medida para um engenheiro com especialização no MIT.

Nos restava apenas nos resignar e aprender a duras penas o caminho para lidarmos com um simples celular ou uma máquina de lavar roupas, com suas funções obscuras repleta de termos técnicos.

Podemos notar que uma diferença básica entre as empresas da nova economia digital, chamadas de Startups e as empresas tradicionais é o ponto de partida de cada um destes modelos. Enquanto as Startups partem de um problema real do cliente e tentar resolvê-lo, as empresas tradicionais partem de seus processos internos, suas limitações de recursos e da visão dos órgãos reguladores de seus mercados. Evidentemente que nesta visão curta, a chance de surgir alguma inovação tende a zero.

Mas há a contrapartida. Enquanto as Startups entendem muito do cliente, elas cometem erros graves em relação a forma de gerir seu negócio. Diferentemente das empresas tradicionais que estão há muito tempo no mercado, elas sentem dificuldade em formatar seu plano de negócio, não compreendem profundamente a legislação fiscal, não conseguem desenvolver uma política de pricingadequada e frequentemente acabam encerrando suas atividades de forma melancólica, enterrando uma boa ideia no momento de sua execução. Evidentemente que ambas poderiam aprender muito uma com a outra. Mas há vários impedimentos para isso. Um dos que mais me chamam a atenção atualmente é algo que imaginei que não aconteceria.

As novas empresas que surgem a reboque da tecnologia trazem novas formas de organização interna, agilidade e foco no cliente, o que é muito bom. Porém há um traço amargo neste ambiente, que chamo de preconceito etário.

Nestes ambientes não há espaço para o preconceito conhecido e disseminado, como o de cor, raça, credo e gênero. A geração mais nova já entra no mercado de trabalho com um grau de consciência destes aspectos que reduz muito a possibilidade de haver algum. E isto foi uma evolução muito positiva. Há muito o que fazer ainda neste aspecto, mas estamos no caminho certo.

O preconceito etário parte de uma premissa falsa, que é de que pessoas acima dos 40 anos não entendem o que eles fazem. Por não serem nativos digitais, suas ideias e conceitos já não servem para o que acreditam ser o que é certo para desenvolverem um Unicórnio (empresa de tecnologia que atinge 1 milhão de dólares de valor de mercado).

Se você tem dúvidas sobre isso, visite uma Startup não em um escritório, mas em um Coworking que é onde se localizam seus ninhos. Certamente a idade média não supera os 30 anos. E não há nada de errado com isso. Absolutamente. O problema está no fato de que não deveria existir nestes ambientes qualquer traço de preconceito, declarado ou inconsciente, dado que a nova geração já chega ao mercado de trabalho com uma mente mais aberta. Ou pelo menos deveria. É como se houvesse a premissa de que pessoas mais experientes não conseguem inovar.

Ocorre que a realidade se mostra diferente disso. Os fóruns mais ricos em que participo é quando há uma mescla de idade entre os executivos, e onde há espaço para que cada um possa se expressar livremente sem qualquer julgamento.

Em alguns casos, notei que no momento de uma contratação, a nova geração primeiro prefere trazer seus similares. Seja de idade ou formação. Quando, porém, não conseguem resolver algum problema específico, acabam contratando uma consultoria geralmente composta por executivos mais experientes para ajudá-los. E novamente a mescla geracional se mostra eficiente.

Atualmente os fundos de investimento, em seus diferentes formatos seja um Ventures Capital ou Private Equity, quando aportam o chamado smart-money, ou seja, não apenas dinheiro injetado na companhia e sim uma combinação de capital e auxílio na estratégia e gestão da empresa, se preocupam com 4 aspectos básicos em um investimento:

  • Marca
  • Tecnologia
  • Expansão ou Escala
  • Pessoas (qualidade do corpo diretivo). Neste último aspecto procuram mesclar executivos de diferentes idades e experiências.

As empresas tradicionais que sentem que estão ficando para trás, procuram mimetizar o modelo das Startups e lamentavelmente praticam o mesmo preconceito etário. Dispensam os executivos mais experientes e os substituem por pessoas mais novas. A cada executivo experiente que sai, a empresa perde um pouco de sua expertise, que a fez chegar até o momento atual. Evidentemente que a redução de custo reforça este movimento, porém pode ser que um problema de gestão só seja notado no médio prazo. Mas como a conta é feita apenas com variáveis de curto prazo, isto não importa agora.

A oxigenação sempre foi bem-vinda em qualquer empresa e não há nenhuma novidade em trazer executivos mais novos. Quando, porém, esta troca é feita no atacado, a empresa perde parte de seu know-how e não é oferecida à nova geração a oportunidade de também aprender o que apenas a tecnologia não resolve, como ponderação, sabedoria, intuição e aspectos humanos tão importantes na gestão de pessoas.

Tem coisas que uma família ensina. Outras a escola, um chefe ou uma empresa ensinam. Porém existem coisas que apenas a vida e a experiência conseguem ensinar. Ambas as gerações podem aprender muito uma com as outras. Basta querer.

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